domingo, 9 de janeiro de 2011

Boori - oferenda a cebeça fisica e ao destino


Chega o filho de santo na casa do pai de santo desconsolado , cheio de problemas. Então o pai de santo recorre ao jogo de búzios e descobre que esse filho tem problemas de Òrìsà e que esse filho tem que tomar Boori. Essa é uma das possibilidades que pode trazer uma pessoa as conseqüências de um Boori.

Dá-se os egbos necessários para a purificação do corpo do agora chamado abyian, 1, 2, 3, 4, 5 egbos ou mais, ou menos, depende do caso, ou seja, o que for pedido no jogo. Coloca-se o filho recolhido numa eni (esteira sobreposta em folhas) depois de passar por banhos de ervas. Inicia-se então os preparativos para os atos. Confere-se para que tudo esteja correto, para nada faltar no exato momento.

Entoam-se rezas de roncó (quarto de recolhimento), rezas de Òrìsà e rezas de Òrìsà Ori. Coloca-se um filho escolhido pelo pai de santo virado de costas para o abyian, com costas e cabeças encostadas uma na outra. Na cabeceira da eni estará disposto oferendas aos Òrìsàs ligados à Ori, como Osaala, Yemanja, Osun. Também ao Òrìsà que rege a cabeça do abyian. Dispostos estão também dois pratos brancos, uma quartinha branca, dois obis, uma tigela de louça branca, o okuta, um pedaço de coral branco, panos de cabeça, velas brancas, um frango branco, uma galinha de angola branca, um peixe de preferência vivo e um pombo branco, o obe (faca cerimonial), ikan (cordas feitas de palha da costa), folhas de odundun, entre outros...

Aqueles que esperam encontrar os fundamentos realizados neste ato, esqueçam! Pois sou contra aqueles que saem de dentro do culto contando tudo o que se passa, preste atenção e reflita sobre este provérbio Yorubá: "Ògbèri Nko Mo Màrìwò" (O não iniciado não pode conhecer o mistério do Màrìwò)

Terminado todos os atos, canta-se cantigas de louvores ao grande Òrisà Ori como por exemplo:

O pere o ori o, ori ke. Eda mi ori ke , oro o ori o lese orisa.

(Traga-me coisas boas cabeça. Minha cabeça grita, minha cabeça aos pés do Orisa)
Ani soke. Ori bo aiye.

(Nós nos regozijamos. A cabeça entrou no mundo)

ou

Ma je mi seku o, ori o.

(não permita que eu faça a minha morte minha cabeça)

Pois ali nasceu mais uma cabeça, graças a Deus.

Pede-se que este abyian seja uma pessoa temente aos preceitos do culto, seja responsável nos seus atos, tenha respeito com sua casa de axé e deseja-lhe muita felicidade na vida, que seus negócios sejam abençoados, que nunca lhe falte a saúde entre outras coisas do gênero.

Alí o abyian ficará por três dias descansando e refletindo sobre tudo o que foi feito e o que foi dito. Depois que se passou este prazo o novo cidadão volta para sua vida normal mas com seus objetivos e perspectivas completamente modificados, cumprirá seus preceitos e se ele será, a partir dali um adepto de Candomblé ou não caberá apenas à ele esta decisão pois o Boori não é aplicado apenas aos adeptos.

Òrìsà Ori não é como os outros Òrìsàs, ele deve ser tratado separadamente, não adianta um filho estar com seu santo satisfeito se seus Booris estão atrasados, por isso usamos de dar sempre Boori antes das obrigações. Um Boori bem feito pode resolver até pequenos problemas de Òrìsà.

Um comentário:

  1. Babá,agora eu sei porque gostei tanto de ti.Tão inteligente sua postagem.Tão lúcida,tão significativa...Eu adoro Bori,acho uma cerimônia tão importante quanto linda,além de fundamental.Afinal,tudo começa no Ori!Adorei o texto,posso copiar?Beijos e à sua benção!

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