segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Conto


Anoitece. A lua, iniciando seutrajeto pelo céu, perfurava as trevas, com sua luz prateada, liberandosua energia sobre a terra.
Os animais noctívagos, começavam a acordar e se dirigiam para a savana e para os bosques, a procura de caça.
No céu, as corujas e morcegos começavam suas rondas.
Aoredor de uma fogueira, todos os jovens da aldeia, aguardavam a chegadado velho Makúràyé, para dele receberam estórias, ensinamentos e muitasaventuras.
O velhochega, senta-se em seu toco preferido, enche o seu velho cachimbo,negro pelo uso, com tabaco e ervas, que somente ele sabia quais,arruma-se, acomoda-se, levando um tempo que, para os jovens ativos, erainterminável.
Limpaa garganta com um pigarro profundo e, quando começa a falar, descesobre o grupo reunido um silencio tão pesado quanto ao da morte.
• ”Nas manhãs da existência do homem em Ayè, quando necessitavam secomunicar com os Orisà, os kadiiala invocavam Legbarà, que prontamentesurgia para saber o que eles queriam...
• Oh Èbora Divino, Mensageiro dos Orisà! Nós servos dos Senhores doMundo, humildemente imploramos ao Nosso Pai Omolu, que perdoe as faltasdo pequeno Apotakiè, e oferecemos ao Nosso Grande Pai, um cesto dedoburù com coco, uma cabaça de emu, uma cabaça de dendem, uma cabaça decom tabaco e mel e uma bandeja de frutas, conforme prescreveu Ifà.Imploramos, oh Pai, cura-o! Ajuda-nos Pai! 
E, incontinente, Legbarà, partia para Orum, levando a mensagem...
Nocaminho, Legbarà, encontrava ricos campos com bananeiras carregadas defrutos amarelinhos, pinhas, mangas, sapotis, cajás e outras frutasdivinas.
Parava para comer e saciar sua fome.
Mais adiante, encontrava palmas sumosas.
Parava para retirar sua seiva, destilá-la e matar a sua sede com o doce emu.
E, assim, a viagem prosseguia, de parada em parada, até a mensagem chegar a seu destinatário.
Infelizmente, quando o Pai Omolu, recebeu a notícia, era tarde demais. Eku chegara primeiro...
Os homens, então, choravam e lamentavam:
•  Teriam os Orisà nos abandonado? 
Orisala, na sua grande sabedoria, convocou uma reunião entre os homens e os Orisà, assim que ouviu as lamúrias.
Ela se realizou na fronteira entre Orum e Ayè.
Sorokérecebeu instruções para guardar, com seu exército, o perímetro em tornoda reunião, contra os seres que só sabem perturbar.
Oshomens escolheram o mais sábio dos babalawó, dois babalorisà e umaiyalorisà (para que as Iyabàs não se ofendessem) como representantes.
Todos os Orisà estavam presentes.
Orisà Olufon, o mais velho, presidia a reunião.
Seria sempre o último a falar e seu voto seria o de “Minerva”.
Sangó e Nànà, seriam os mediadores, para evitar perda de tempo com assuntos supérfluos.
E a palavra foi dada aos homens, o babalawô, foi o primeiro a falar:
• Nós Os louvamos e adoramos. Nós Lhes damos oferendas. De nossa caça, aparte melhor, de nossas colheitas, as melhores frutas e frutos,procuramos nas matas, com a licença de Ossaym, as ervas da preferênciados Senhores, e Senhoras, tudo, dentro do que Ifá nos transmite dosdesejos dos Senhores, e Senhoras, nós fazemos e, mesmo assim, nãoobtemos respostas às nossas súplicas. Seguimos os preceitos ensinadospelos ancestrais e, mesmo assim, nada conseguimos... Aos antigos,bastavam cruzar a fronteira onde ora nos reunimos, para encontrar efalar com nossos Pais. 
Solene, Orisà Olufon interveio:
•  Separai-nos pois não mereceram nossa confiança...
•  Foi justa a separação - disse Sangó - mas também é justa a reclamação... 
Intempestivamente Ógùn fala:
•  Porque da demora em solicitar nossa ajuda? 
Prostrando-se ao chão, Mgbògun, um dos babalorisà, exclama:
•  Não Pai! No caso de Apotakiè solicitamos a benécie do Pai Omolu assim que a febre se manifestou...
•  Mas, quando fui avisado, - disse Omolu - Eku já havia passado por lá... 
Oríketúzarà Katendé, descendo do Iróko, disse:
• Nem o homem demorou a pedir indulgência, nem o Orisà Ademimonazambidemorou a chegar. A notícia é que demorou muito tempo para sair de Ayèe chegar a Orum. 
E Ógùn foi chamar Soroké.
Soroké argüiu Legbarà.
Legbarà se defendeu:
• O caminho é longo, sede e fome nos alcançam entre Ayè e Orum,precisamos repor nossas forças para viajar entre os espaços, precisamoscomer e beber.
•  Precisamos ver isso... - Falou pensativamente Orisà Oguian.
•  Sim, Legbarà precisa de energia. - Concordou Osun.
•  Que seja feita a justiça! - Completou Sangó. 
Orisà Olufon, erguendo seu opasoró, proferiu a sentença:
• Que Legbarà, para ter energia para suas viagens, receba, sempre, emtodos os tempos, de agora e para o futuro, sua bebida e comidapreferidas, antes de qualquer outro. Que sejam abertos a noite, o dia,as festas, as saudações e tudo o mais com oferendas aos nossosmensageiros, para que, rapidamente, saibamos o que acontece em Ayè.Gravado ficará em Loko e nos planos de meu Opasoró, e para sempre assimserá feito...
•  E hoje, sempre que invocamos o asè de nossos Pais, seja porque motivo for, primeiro damos de comer e beber aos Divinos Mensageiros, para que Eles possam viajar entre os espaços, rápidos como a luz do Pai Maior,sem interrupções, para que possamos receber, quando merecemos, a ajudade nossos Orisà...”

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