quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Iyamí Agbà


"O principio ancestral feminino recebem o nome de Ìyámi Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyámi Osorongá chamada também de Ìyá NIa, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder da ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Gëlèdé", compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Ìyámi nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino." Para Sergio Ferretti (1989:186) o culto a Naê no Maranhão pode ser comparado ao das Iyamí Osorongá da Nigéria, Benin e outras regiões da África - mães ancestrais respeitadas e temidas, que não incorporam e que têm o poder de se transformar em pássaro. É um orisà apenas assentado para ser cultuado pela
comunidade, não é um Orísà de iniciação, por ser uma energia ancestral aglutinada de forma. A virtude de poder trazer filhos ao mundo que têm as mulheres, um fato quase mágico, maravilhoso que as acerca ao divino, é e foi também motivo de temor em muitos povos antigos, algo que era inexplicável, pelo qual as mulheres sempre foram vistas como possuidoras de certo poder especial. Fala-se da famosa "intuição feminina", mas mais do que nada, em todas as culturas há uma tendência a transformá-la em "bruxa", no sentido de crer que tem poderes inatos para comunicar-se com forças além do alcance do entendimento do homem. O mito da "bruxa" que voa na vassoura acompanhada por pássaros macabros é quase mundial, com pequenas diferenças segundo o lugar do mundo do qual falemos. Também se relaciona a fecundidade com o misterioso sangue menstrual, que é a marca que pauta a conversão da menina numa mulher, daí em mais será considerada também uma Iyami, aquela que em qualquer momento deixará de ter a regra, inchando-se o ventre, revelando que tinha em seu interior a "cabaça da existência", o caminho pelo qual todos vêm do Orun para o Aiye. Mais para confirmar dita transformação em "mulher", levam-se a cabo os "ritos de passagem" nos que as meninas-mulheres estarão isoladas durante vários dias, alimentadas e vestidas de um modo especial, onde conhecerão todos os segredos relacionados com as mulheres, os que serão devidamente dados pelas anciãs de sua comunidade. Os ritos assegurarão entre outras coisas que seja possuidora de uma "cabaça” fértil e o alinhamento de seu lado espiritual feminino com seu corpo, convertendo-a numa mulher em todo sentido. Há ao final uma apresentação em público das garotas que deixaram atrás a etapa da meninice, para que os homens lhes tenham em conta no momento de querer escolher uma esposa. A palavra Iyami por si só, em realidade não identifica à mulher com o lado escuro de seu poder, muito pelo contrário é um modo de exaltar e homenagear sua capacidade de engendrar apelando a seu lado protetor maternal, pois significa: "Minha mãe". Esta forma de referir-se a qualquer mulher expressa um sentido de reverência àquela que serve de ponte entre os antepassados e os vivos, bem como também reflete seu importante papel maternal. Desse modo todas as divindades femininas são chamadas também Iyami, mais não no sentido de "bruxas" senão por tratar-se de uma homenagem verbal às grandes MÃES ESPIRITUAIS, coletiva.
 Representa toda embora a mulher seja fértil.
Embora a mulher seja fértil (ao menos em teoria por ter a regra), não se lhe considera apta para encarregar-se de certos aspectos importantes dentro das religiões africanistas, por muitos motivos, os principais não podem revelar-se aqui por tratar-se de um conhecimento que só devem possuir sacerdotes que adquiriram certo status na comunidade. Mais algumas razões práticas têm a que ver com o atendimento constante que requer o culto e uma mulher não pode dedicar-se por inteiro ao mesmo já que segue tendo a regra, pois devem abster-se do contato com as divindades durante esse período e no caso de ficar grávida, durante os últimos meses, o parto e a posterior quarentena (sem contar que depois por vários meses todo seu atendimento deve ser para o bebê). Quando se fala de Iyami Osoronga muda bastante o conceito antes exposto, pois se refere ao mito sobre o poder feminino associado às AVES a partir de certas espécies que atracaram a mente do homem por sua rareza ou comportamentos macabros. Ainda que também não isolado das mulheres ou dos Orisa o mito Iyami se relaciona com estas por seus estômagos, mais precisamente com seu útero, ao qual sempre nos referimos como Igba Iwa (a cabaça da existência). Trata-se da comparação metafórica entre um ovo fecundado e a barriga da mulher grávida, onde se costuma dizer que a mulher tem o “poder do pássaro encerrado na cabaça”. No útero da mulher não se vê a simples vista ao bebê, mas sim se sentem seus movimentos, enquanto no ovo (de uma galinha, por exemplo) não se aprecia o movimento, mas se pode ver a depois de luz ao filhote, em ambos os casos se pode apalpar a fecundidade e o surpreendente poder "mágico" que isto implica. O mito Iyami Aiye então, não é o culto às mulheres bruxas nem às aves macabras, senão que é a associação mágica e metafórica entre o poder feminino da fecundação e o poder místico de algumas aves noturnas (principalmente) que somado a certos temores e sentimentos negativos dos seres humanos cria no espaço etéreo os Espíritos Coletivos das Eleiye (donos das aves) ou Iyami Aje (Minha mãe feiticeira) ou mesmo Iyami Osoronga, todas estas denominações que aludem ao mesmo.
As mães mortas e ninguém pode incorporá-las ou manifestá-las.
Estes espíritos são impessoais, nunca tiveram corpo humano nem o terão, fazem parte do homem e a natureza ao mesmo tempo, espécie de "parasitas" que aparece junto com o homem no mundo por causa de sua existência, não têm consciência, são alimentados pela idéias malignas e os temores, por isso se tornam consideravelmente perigosos no plano astral. Podem ter sexo masculino ou feminino e sempre vem em casal, representando o equilíbrio, a dualidade existente em todos os planos, inclusive no de nossos próprios temores mais escuros. A crença popular yoruba se crê que têm forma humanóide com plumas, mais nunca se representam em imagens ou gravuras, só se intui seu poder através dos pássaros, os que majoritariamente são usados como símbolos nas bengalas metálicas (osun) dos Babalawo ou nas coroas dos Obas, representando que o possuidor tem a autoridade para acalmar-lhes e que para ganhar tal titulo primeiro teve que render homenagem ao Poder Feminino. As Iyami Aje atuam sob a supervisão de Oso e têm estreita relação com outros Orisa como Ogun que é o dono dos sacrifícios e quem provê o sagrado líquido pertencente à Eléiye . Quando há uma influência negativa por parte dos Eleiye masculinos se diz que são os Oso quem estão trabalhando na contramão da pessoa, ainda que nunca haja um culpado externo responsável destes ataques, pois em verdade sempre é a própria pessoa que muitas vezes ganha "o castigo" através de seu comportamento. As Eleiye são executoras da lei num sentido inverso, isto é, procurar o bem a partir do mau. Toda pessoa que tenha certa inclinação às características negativas para os demais está alimentando estas forças e ao mesmo tempo antevendo o mau perigosamente, o que em longo prazo faz com que a própria energia negativa da pessoa se converta em seu próprio juiz, Iyami Osoronga posará suas patas em cima de sua cabeça. Não há nenhum ebo capaz de vencer o trabalho destes Espíritos, o único que se pode no máximo é apaziguar-lhes e isso é porque "vivem" em nossas entranhas, em estado latente. Sua função se torna importante, pois apesar de ser "inimigas" das pessoas tendem a regular o comportamento do Ser Humano através de seus medos. Quem deseja que Iyami Osoronga não se torne um obstáculo em sua vida deve frear os sentimentos de inveja, ciúmes, rancor, bem como qualquer pensamento negativo para seus semelhantes. Crê-se que as Iyami se reúnem em assembléia numa mesa presidida por Oso , onde se conspiraria e especularia sobre as maldades a realizar enviando os Ajogun após o questionamento se foi feito ou não os *ebo marcados por Babalawo através de Ifa, deste modo servem de reguladores do comportamento frente às dívidas geradas ante as divindades, por causa de ter rompido o equilíbrio existente de alguma maneira seja numa vida anterior ou na presente. A Iyami Aiye pertence toda sangue derramado na terra e também são quem controlam o sangue menstrual a que quando aparece revela a presença próxima destas criaturas, o que explicaria as dores típicas e o comportamento histérico que costuma ter as mulheres nessa etapa. Isto também é outra razão pela qual nos sacrifícios para Orisa o sangue não deve tocar a terra - existindo um método ritual que evita isso - e por que a mulheres com sua regra devem manter-se afastadas do culto. Ao suceder qualquer das duas coisas ou ambas, seria um tabu e a cerimônia estaria quebrada, devendo conferir ao oráculo por alguma solução. Costuma-se oferecer-lhes preferencialmente as vísceras, pois se considera que é sua comida favorita, as que se preparam sempre depois de qualquer sacrifício para os Orisa de um modo especial e são apresentadas em pratos de barro forrados come ewe Lara.Os etutu para iyami são conhecidos como Iyanla e significa "que o mal desapareça". Se lhes oferece também, durante qualquer sacrifício, um eko que serve para proteção, pois as acalma quando é despejado na terra, este representa o poder feminino, pois entre outros ingredientes leva: plumas - simbolizam muitos filhos e proteção; sangue - representa a menstruação e a vida. Presume-se que a palavra Aje utilizada como "bruxa" prove da contração de Iya je(a mãe que come) aludindo a seu voraz apetite, sempre atraída pelo cheiro a sangue e vísceras ela pode vir sob a forma de mosca, pássaro gracioso ou inclusive outros animais. Texto Adaptado por Lokeni Ifatolà

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