sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Iyá mí Osórongà


 
 
 
 
 
 
Iyá Mi Osorongá ( Ìyá Mi Osorongà ) é a síntese do poder feminino,
claramente manifesto na possibilidade de gerar filhos e, numa noção 
mais ampla, de povoar o mundo. Quando os iorubás dizem "nossas mães 
queridas" para se referirem às Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar 
os poderes terríveis dessa entidade.
Donas de um axé tão poderoso quanto o de qualquer orixá, as Iyá Mi 
tiveram seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e 
são as grandes homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, 
realizado entre os meses de março e maio, que antecedem o início das 
chuvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado à 
fertilidade.Poder procriador, tornaram-se conhecidas como as senhoras dos 
pássaros e sua fama de grandes feiticeiras as associou à escuridão 
da noite; por isso também são chamadas de Eleyé  e as corujas são 
seus maiores símbolos.
A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o 
aspecto que mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos 
acontecimentos que fogem à explicação e ao controle humano. Toda 
mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyá Mi; a 
capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos, 
sempre assustou os homens e as cantigas entoadas durante o festival 
Gèlèdè fazem alusão a esse terrível poder -- que não pertence apenas 
às Iyá Mi, mas a qualquer mulher.
Mãe destruidora, hoje te glorifico:
O velho pássaro não se aqueceu no fogo.
O velho pássaro doente não se aqueceu ao sol. 
Algo secreto foi escondido na casa da Mãe ...Honras à minha Mãe!
Mãe cuja vagina atemoriza a todos.
Mãe cujos pêlos púbicos se enroscam em nós.
Mãe que arma uma cilada, arma uma cilada.
Mãe que tem potes de comida em casa.
As mães são compreendidas  como a origem da humanidade e seu grande 
poder reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a 
mãe que decide se o filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, 
ainda decide se ele deve viver. A mulher, especialmente nas 
sociedades antigas, tinha inúmeros recursos para interromper uma 
gravidez. E, até os primeiros anos de vida, uma criança depende 
totalmente de sua mãe; se faltarem seus cuidados a criança não 
vinga. Em síntese, todo ser humano deve  a vida a uma mulher. Se 
todas as mulheres juntas decidisses não mais engravidar, a 
humanidade estaria fadada a desaparecer. Esse é o poder de Iyá Mi: 
mostrar que todas as mulheres juntas decidem sobre o destino dos 
homens.
Mãe todo-poderosa, mãe do pássaro da noite.
Grande mãe com quem não ousamos coabitar
Grande mãe cujo corpo não ousamos olhar
Mãe de belezas secretas
Mãe que esvazia a taça
Que fala grosso como homem,
 
Grande, muito grande, no topo da árvore iroko,
Mãe que sobe alto e olha para a terra
Mãe que mata  o marido mas dele tem pena.
Iyá Mi é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é  
envolvido por tantos tabus. Seu grande poder se deve ao fato de 
guardar o segredo da criação. Tudo que é redondo remete ao ventre e, 
por conseqüência, as Iyá Mi. O poder das grandes mães é expresso 
entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá 
Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as 
culturas, é considerada tabu.
As denominações de Iyá Mi expressam suas características terríveis e 
mais perigosas e por essa razão seus nomes nunca devem ser 
pronunciados; mas quando se disser um de seus nomes, todos devem 
fazer reverencias especiais para aplacar a ira das Grandes Mães e, 
principalmente, para afugentar a morte.
As feiticeiras mais temidas entre os iorubás e nos candomblés do 
Brasil são as Àjé e, para referir-se à elas sem correr nenhum risco, 
diga apenas Eleyé, Dona do Pássaro. O aspecto mais aterrador das Iyá 
Mi  e o seu principal nome , com o qual tornou-se conhecida nos 
terreiros, é Oxorongá, uma bruxa terrível que se transforma no 
pássaro de mesmo nome  e rompe a escuridão da noite com seu grito 
assustador.
 
As Iyá Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da 
vida é a morte. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas 
em seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não 
podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo tipo de 
maldição e tornam-se senhoras da morte.
O lado bom de Iyá Mi é expresso em divindades de grande fundamento, 
como Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi Dizem 
que o deus caçador encontrou mel aos pés da jaqueira e em torno  
dessa árvore formou-se a cidade de Kêtu.
Os assentamentos de Iyá Mi ficam junto a grandes árvores como a 
jaqueira e geralmente são enterrados, mostrando a sua relação com os 
ancestrais, sendo também uma nítida representação do ventre. As Iyá 
Mi, juntamente com Exú e os ancestrais, são evocadas nos ritos de 
Ipadé, um complexo ritual que , entre outras coisas, ratifica a 
grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé, 
denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois 
um dia, quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá Mi, que 
são, na verdade, as mulheres ancestrais.

Comida Sacra

Amalá, comida oferecida ao Orísà Sángò.