quarta-feira, 8 de setembro de 2010
RITUAIS FÚNEBRES
Embora, o assunto seja desagradável para muitas pessoas, os rituais mortuários, é um assunto que interessa a todos nós, pois, inexoravelmente um dia cada um de nós será a personagem principal como homenageado desses rituais, que espero esteja longe, desejo falar sobre parte dos rituais fúnebres, ou seja, do Àxèxé (corruptela brasileira do rituais Àjèjé, rituais fúnebres em homenagem aos caçadores, que depois extrapolou para outras categorias de pessoas).
Quando o falecimento de uma pessoa é repentino, via de regra não se está preparado para essa eventualidade, pois, nós somos um pouco auto confiantes e julgamo-nos onipotentes. Achamos que nada vai nos acontecer e estamos acima de tudo, e o que factível de atingir ao nosso vizinho, jamais nos atingirá; e ficamos naquele pensamento de: "Amanhã eu penso nisso...". Em nossa vida particular, na maioria das vezes, não deixamos testamento em cartório com os beneficiários estabelecidos ou simplesmente não adquirimos uma sepultura, gato natural como previdência, tendo em vista que mais cedo ou mais tarde faremos uso dela inexoravelmente.
Assim é também numa casa de Culto. pode-se assim dizer que em quase sua totalidade do número de casas a regra é a mesma, casas que às vezes, com dezenas ou centenas de filhos e filhas de santo, Ogán, Ekéjì, não há a preocupação de formar sucessores, caso venhamos a faltar repentinamente e nem herdeiros dos bens rituais, materiais e espirituais, o que quase sempre gera disputas e cisões dentro da casa, após a morte do ou da Aláxe. Por isso, quando morre alguém de grau hierárquico importante dentro da casa (Bàbá ou Ìyá Aláxe), o caminho primeiro a seguir é consultar o jogo, para encontrar o direcionamento ritual a seguir.
Quando já existe a perspectiva do desenlace a qualquer momento de maneira irreversível, o costume Afro-brasileiro é, se for Òrìxà feminino, de colocar-se água dentro do igbá. Mas, se for Òrìxà masculino o igbá deverá ser colocado dentro de uma bacia maior com água. Isto por causa da idéia de que o feminino seja a cabaça continente, aquela que contém a existência, neste caso, individualizada (por ser um igbá particular ou individual). E seguindo na mesma linha para o masculino, ele representa o conteúdo, aquele que é contido na água da existência, isto é, também em sua versão individualizada.
Após o desenlace, esta água do igbá deverá ser jogada na terra do lado de fora do terreiro. Em algumas casas, é colocada uma bacia grande junto à porta, onde com uma quartinha, uma pessoa da casa, geralmente mulher, "despacha" todas as pessoas que entram ou estão na casa. Depois disso, é que então junta-se àquela água da bacia a água do igbá do àdóxùu falecido. Aí, esta água é atirada à terra do lado de fora.
Ò simbolismo desse ato é o de que a água conteúdo da força individual daquela pessoas falecida, mistura-se com a água coletiva que contem o àxe da comunidade (egbe) e que ao ser atirada na terra, reintegra-se à coletividade novamente, perdendo assim aquela individualidade anterior. Isto para o caso dos igbá individuais, aos coletivos não se aplica.
Quando o terreiro tem uma casa de Egúngún o igbá vai para lá, onde fica coberto por um àlà (pano branco). Os igbá de Òòxààlà serão colocados sobre àkàsà brancos.
Costuma-se lavar o ìkúó (o morto) com àgbo de ervas de Egúngún e Òòxààlà ou de algum outro Òrìxà que tenha ligação com os ìmole (espíritos) da terra. Algumas pessoas têm o costume de misturar eje (sangue) nessa água de banho, cujo significado do banho é o falecido estar devidamente limpo e com boa aparência para que seja admitido na morada dos Ancestrais. Os Yorùbá acreditam que se o corpo não for lavado na cerimônia de partida, o morto não tomará lugar com os Ancestrais e se tornará um fantasma errante que eles chamam de Iwin ou Ìxekù, fantasma ou assombração de pessoa cuja tarefa está inacabada.
O corpo é preparado sacrificando-se primeiramente um galo ou uma galinha, dependendo se homem ou mulher, diz-se que a voz da ave seguirá o falecido para o outro mundo. o eje do sacrifício é reunido com o preparado de ervas (àgbo) e usado para lavrar o corpo. Talvez, daí o costume de lavar o corpo com eje entre os brasileiros. Após o banho o corpo é acomodado no caixão, onde pelos costumes Yorùbá, também já teria sido feito um sacrifício, que varia de acordo com o status do morto.
Então deverá ser feito um último eborí (oferenda à cabeça) levando uma série de coisas específicas. Este ritual é feito de maneira particular somente com pessoas iniciadas, e parentes próximos. O Aláxe faz os preceitos necessários.
Este último eborí tem duas finalidades principais: uma delas é a de liberar o Òrìxà daquele Orí, para que Ele "volte para sua casa", como no itan (história) "A lenda do Orí e a escolha do destino"; a segunda, é a última oferenda ra o Orí (cabeça), pois o Orí é o único que acompanha o seu devoto para até mesmo além da morte, também com referência ao mesmo itan, ainda na lenda do Orí e a escolha do destino. Esta última oferenda é para que ele faça sua viagem para o orun com tranqüilidade e tenha um bom regresso ao ayé ará-orun (o mundo dos cidadão do céu).
Este eborí (oferenda à cabeça) tem também o significado muito profundo para o Orí-inú (a cabeça interior de cada pessoa), que é o único Òrìxà realmente a acompanhar seu devoto para além da Morte. O Orí acompanhará a pessoa para o túmulo, de acordo com o Odù Ògúndá-Méjì, onde o Orí é descrito como um Deus, que além de nosso deus pessoal, suplica e intercede por nós perante os demais deuses. E que assim sendo, nada pode ser realizado por ou para qualquer homem, sem que seu Orí esteja de acordo com isso. Vindo daí a declaração:
Orí pèle
Atètè níran.
Atètè gbè'ní k'òòsà.
Kò sóòsà tí í dá'ní gbè
Leyìn orí ení.
Orí pele,
Orí àbíyè.
Oni Orí bá gbegboo re,
Ko yo sese!
Cabeça, Eu lhe saúdo!
Você que não esquece os seus devotos é Quem abençoa os seus devotos mais rapidamente que qualquer outro Deus.
Nenhum outro Deus abençoa um homem
Sem o consentimento do seu Orí.
Orí Eu lhe saúdo! É
Você quem permite aos filhos nascerem vivos,
Aquele cujo sacrifício é aceito pelo seu Orí,
Deve regozijar-me imensamente.
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