O segredo desta culinária é comandado pela guardiã da cozinha, a Iyabasé.
Aquela que “muito faz e pouco fala.” Quando se fala da sacerdotisa da comida, as formas mais antigas de transmissão do conhecimento trazida pelas diversas etnias africanas vão ser evocadas: a observação e a convivência. E o mestre dos mestres será mais uma vez chamado: o tempo. O conhecimento ritual, o respeito, a criatividade e o comando apresentam-se como o perfil da Iyabasé e orientam à sua escolha, mesmo que, hoje, nos “novos tempos,” poucas sejam as mulheres que se disponham a tal cargo; não pelo gosto, mas pelas funções assumidas por elas na sociedade.
A imagem da Iyabasé apresentada pelos sacerdotes, remonta aos primórdios, quando Olodumaré, Deus, entregou o poder de criar e de tudo transformar às Grandes Mães. A velha que cozinha, divide, assim com o poder ancestral feminino esta força, assim como todas as mulheres. Daí recair sobre ela o tabu da impureza, que reflete as relações de poder, as tensões entre homem e mulher expressas em alguns mitos da sociedade yorubá, num ambiente onde embora sua função seja de procriar, ela goza de plena liberdade e independência dentro do grupo. Permitir que a mulher menstruada manipule a comida é expor toda a comunidade ao poder das Mães Ancestrais, que serve tanto para o bem, quanto para o mal. A Iyabasé é, uma das pessoas que no terreiro, mais expressa essa força, pois trabalha com ela dia e noite, ao manipular a colher de pau para transformar grãos e alimentar tudo e todos, conservando, recriando e inventando.
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