quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Galinha d'angola


Naquele tempo, a galinha d’Angola era inteiramente preta e vivia só e infeliz dentro da mata.

Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o adivinho de Obatalá, sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde o Orixá do Branco era cultuado, pois cor preta era considerada como uma grande ofensa.

Desolado o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de encontrar, em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.

Depois de muito caminhar, encontrou numa clareira, um velho muito estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo:

“Dá-me um pouco de comida e de água pois estou exausto e já não posso conseguir alimento para minha própria sobrevivência”.

Condoído, Etu serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.

Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etu que preocupado, velava por seu sono.

Já refeito, o velho perguntou:
“Que fazes sozinho no interior desta floresta? Não sabes por acaso que ela é sagrada e que só os iniciados podem penetrá-la?“

“Ando sem destino. Nasci só e sempre vivi só. Minha aparência é muito repugnante e minha feitura impede que as pessoas permitem que me aproxime delas!” Replicou a ave.

“Tua feitura exterior nada é, comparada com tua beleza interior. Aproxima-te mais e, como recompensa pela tua bondade, modificarei um pouco a tua aparência!”    

Pegando pó de efun, o velho que outro não era que o próprio Obatalá, soprou sobre o corpo de Etu, deixando-o, a partir de então, todo pintado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que colocou no alto de sua cabeça dizendo:

“A partir de hoje, serás o animal mais importante na religião dos Orixás, Nada poderá ser feito sem tua colaboração e como sinal desta importância, serás o único dentre os seres vivos a portar o oshu, símbolo da aliança formalizada entre o iniciado e seu Orixá. Possuirás além disto, tantas fêmeas quantas quiseres e tua prole será numerosa e se espalhará por sobre a Terra”.

Por este motivo a galinha d’Angola possui o corpo coberto de pintinhas brancas e carrega sobre a cabeça uma crista de forma cônica, assemelhando-se ao iniciado durante o ritual de iniciação. Sua presença em todas as cerimônias iniciáticas é indispensável e todos os Orixás a exigem em seus rituais.
(ITAN TI ODÙ OFUN)

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